O som da cuia batendo na palma: chimarrão, roda de prosa e pertencimento
Um texto poético sobre o ritual do chimarrão no Sul do Brasil. Cuia, silêncio, roda de conversa e pertencimento. Uma pausa quente onde mora a cultura, a escuta e o Brasil que vive devagar.


O som da cuia batendo na palma: chimarrão, roda de prosa e pertencimento
Você já escutou o som da cuia batendo na palma da mão?
Não é só barulho — é convite.
É assim que o Sul chama pra roda, pra conversa, pra memória quente.
Esse texto é pra quem já sentiu o calor do mate nas manhãs frias ou deseja entender o Brasil onde o silêncio também serve.
Há lugares onde o café não é a primeira bebida do dia.
No Sul do Brasil, o amanhecer tem gosto de mate.
A chaleira no fogo, o cheiro da erva moída, a cuia passando de mão em mão.
O chimarrão não é só bebida — é elo, é tempo, é escuta.
No interior do Rio Grande, em Santa Catarina, no Paraná...
Onde há uma roda, há um mate.
E onde há um mate, há pertencimento.
A cuia que reúne
A cuia não é individual. Ela gira.
Ela chama pra perto.
Ela une quem pensa diferente, quem mora longe, quem já foi e volta só na lembrança.
O chimarrão não corre. Ele espera.
Esfria, aquece, reaquece.
Vai de mão em mão, sem pressa.
Cada gole carrega silêncio, respeito, e um tanto de história que só quem viveu entende.
O som da roda e o calor da prosa
Na roda do chimarrão, nem sempre se fala.
Às vezes só se olha.
E esse olhar vale mais que mil palavras.
É ali, no intervalo entre a cuia que vai e a que volta, que se dizem as coisas mais bonitas: com os olhos, com o tempo, com a escuta.
O som do mate puxado, o barulho da cuia batendo leve na palma, o riso que escapa...
Tudo isso é música pra quem sabe escutar o Brasil com o coração.
Pertencimento sem pergunta
Ninguém pergunta: "Quer mate?"
Se está na roda, recebe.
Não se exige fala.
Não se exige pressa.
O chimarrão ensina que estar ali já basta.
É o Brasil da acolhida silenciosa, do calor partilhado, da mão que oferece sem cobrar.
Quem entende a roda do mate entende o Brasil que não aparece nos jornais — mas que sustenta a alma do povo.
A tradição que segue viva
Mesmo com celular na mão, com notificação tocando, ainda tem gente acordando com a chaleira no fogo.
Ainda tem piazito aprendendo a montar a cuia.
Ainda tem vó que sabe a medida certa da erva e do tempo.
É tradição que não precisa de palco.
Ela vive no quintal, na varanda, na beira da estrada.
E ali, o tempo do mate segue firme: um tempo de pausa, de verdade, de Brasil.
Mate, memória e saudade
Quem está longe sente falta do mate.
Mas mais do que o gosto, sente falta da roda.
Do jeito de servir, da mão que estende, do silêncio que acolhe.
Na cuia moram histórias.
Cada erva moída traz um pouco da terra.
Cada chaleira antiga tem um tanto de passado fervendo dentro.
A chaleira velha e o tempo que não se apressa
Toda casa antiga no Sul tem uma chaleira de estimação.
Não é de coleção — é de uso.
Fica preta de tanto servir, mas nunca é trocada.
Ali ferve a água do mate, mas também ferve o tempo da vida lenta.
Enquanto a chaleira esquenta, o coração acalma.
Enquanto ela apita, a alma ouve.
E cada vez que ela vai pro fogo, o passado esquenta junto.
Na chaleira velha mora um tempo que não se apressa.
Um tempo que ensina que ferver pode ser mais bonito que explodir.
O Brasil que cabe numa cuia
Pode parecer pequeno, mas ali dentro — entre a erva, a água e a mão que oferece — cabe um Brasil inteiro.
Um Brasil que não aparece na televisão, mas que se mostra na roda, na cerca, na varanda.
Cabe o respeito, o costume, a generosidade.
Cabe a memória dos que já se foram e o silêncio dos que ainda estão por perto.
Cabe o gesto mais simples de todos: partilhar.
A cuia, quando gira, leva consigo mais que mate — leva identidade.
E quem bebe entende, mesmo sem palavras, que pertencer é isso: estar junto, mesmo em silêncio.
O som da cuia batendo na palma não é só um gesto.
É uma senha.
É o Sul dizendo: "Chega mais".
É o Brasil lembrando que existe afeto no silêncio,
que há cultura na pausa
e que há pertencimento naquilo que não se explica.
Quem já bebeu um mate em roda, sabe:
aquele momento fica guardado pra sempre.
Não só na memória — mas no peito.
Cada leitor é uma nova chama. Vamos acender mais fogueiras?
Se esse texto tocou sua memória, seu afeto ou seu amor pelo Brasil profundo,
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A Cultura do Brasil vive em cada partilha.
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